quarta-feira, 29 de julho de 2009



Depois do dia se segue a noite
em escuridão mergulho no céu estrelado
em profundas solidões, uma luz pra iluminar
e eu vejo imenso, um belo luar.

Uma borboleta me leva
através do tempo, vagueio
vejo as árvores, percebo que neva
tento matar o meu anseio.

Mas a qualquer momento
que eu olhe ao meu redor
nada parece mudar.

É como sentir que a vida
se desenvolve entre mentiras,
mentiras inocentes.
(Ítalo Egypto)

terça-feira, 28 de julho de 2009

. . . uma praia deserta, um coelho, uma amizade . . .
(dedicado a Suzanne Mostaert)


Quando durmo, sonho
e é engraçado pois quando sonho,
me reporto a vários lugares diferentes,
vagueio por várias mentes.

Então em um sonho desse,
estou numa praia deserta
e dentro de mim
é como se um sentimento nascesse.

Sentado na areia, me sinto estranho
quando um coelho vejo ao meu lado
parecia que eu tinha me afogado.

Como uma onda que traz voracidade,
num intenso momento de felicidade
e eu repito comigo, só pode ser amizade.
(Ítalo Egypto)



Soneto à Fotografia

Libertar-se ligeiro da moldura
é o desejo da face, onde, o desgosto
emigrado do poço de água impura,
vai se aninhar na hora do sol posto.

Do lugar da prisão vem a tortura,
pois vê, do seu retângulo, teu rosto
e acorrentado na parede escura,
não pode engravidar-te para agosto.

Guarda ainda no olhar instante e viagem:
o instante em que foi presa pela imagem
e o roteiro que fez em mundo alheio.

E eterna inveja do seu sósia ausente
que, embora prisioneiro da corrente,
habita num subúrbio do teu seio.

(Carlos Pena Filho)
Foto por: ítalo egypto


Notícia do Alto Sertão


Por trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.

(João Cabral de Melo Neto)
Foto por: tamires brito

Elogio da Dialética

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

(Bertolt Brecht)
Foto por: ítalo egypto


As Boas Ações

Esmagar sempre o próximo
não acaba por cansar?
Invejar provoca um esforço
que inchas as veias da fronte.
A mão que se estende naturalmente
dá e recebe com a mesma facilidade.
Mas a mão que agarra com avidez
rapidamente endurece.
Ah! que delicioso é dar!
Ser generoso que bela tentação!
Uma boa palavra brota suavemente
como um suspiro de felicidade!

(Bertolt Brecht)



Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

(Bertolt Brecht)