quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Eu sinto-me neste momento como uma brisa
que corre tão leve quanto a alma de uma criança
tão livre quanto as folhas que caem do céu
e arrancam-me um sentimento de esperança
não existiria nenhum outro lugar
que eu desejasse estar
porque aqui eu me sinto em paz,
de uma forma que sou capaz
de sentir cair ou amar.
(ítalo egypto)

domingo, 11 de outubro de 2009

Você venceu, é o seu show agora, então me diga o que vai ser?! Quantas pessoas terão de passar por aqui?! Quantas pessoas terão de ir?! Onde as boas pessoas foram?!
Então me diga agora você, o show agora é seu, as pessoas se destruíram, mas você venceu.

sábado, 3 de outubro de 2009

Invade-me oh noite tenebrosa
e arrasta-me a um lugar melhor,
por uma estrada calçada de suor
tão calma e bela como a rosa.

Eu que abandonei minha vida de desgosto
a deixei para ti como alento
de um pobre ser, sedento,
a amar sempre disposto.

Desvaneci o reflexo dos meus passos
reparei as pedras do caminho
em cada uma coloridos laços.

Da noite se fez alegria,
como o vento num moinho
tão belo e claro como o dia.
(ítalo egypto)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

foto por: Tamires Brito


Onda que, enrolada, tornas,
Pequena, ao mar que te trouxe
E ao recuar te transtornas
Como se o mar nada fosse,

Porque é que levas contigo
Só a tua cessação,
E, ao voltar ao mar antigo,
Não levas meu coração?

Há tanto tempo que o tenho
Que me pesa de o sentir.
Leva-o no som sem tamanho
Com que te ouço fugir!
(Fernando Pessoa)

HORIZONTE

O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Esplendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.

(Fernando Pessoa)

foto por : Tamires Brito

Abdicação

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços


Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.


Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
(Fernando Pessoa)

sábado, 29 de agosto de 2009

foto por: tamires brito



Ah! Como é bom acordar
e sentir o aroma do vento
que escorre da face aos pés
como uma lágrima
que enxuga a alma.

Como é bom sonhar,
com as transições acordar
lindas palavras dizer
inesquecíveis momentos viver.

Como é bom sorrir,
sorrir até lacrimejar
lacrimejar até partir
partir até voltar.

Como é bom o amanhã,
que traz consigo paz,
de uma nova chance é fã
e criar novos caminhos capaz.

O melhor desse dia,
que eu posso dizer
antes que ele descanse.

Tudo que eu queria
era uma nova chance
a cada novo dia.

Teu sorriso me ilumina,
teu olhar me orienta,
tua alegria me contamina,
teu calor me alimenta.

(ítalo egypto)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

foto por: tamires brito



Na noite escura, sombria claridade
no mar agitado, impiedosa calmaria
no olhar distante, longínqua proximidade
na amizade sincera, verdadeira fantasia.

No verão, sustentar a beleza
no inverno, recriar a emoção
na primavera, primar a sutileza
no outono, transbordar satisfação.

Assim segue o olhar distante,
sustentando a sutileza de um mar agitado,
recriando a beleza de uma amizade longínqua.

Assim segue a noite escura,
transbordando uma emocionante claridade
primando uma sincera proximidade.
(ítalo egypto)

Como os ecos ao longe confundem seus rumores
na mais profunda e tenebrosa unidade,
tão vasta como a noite e como a claridade,
harmonizam-se os sons, os perfumes, as cores.

(Baudelaire)

domingo, 23 de agosto de 2009

foto por: ítalo egypto


Ao alvorecer minha vida começa
como uma grande aventura
não há alegria como essa
na minha vida não há partitura.

Ao meio-dia minha vida é um drama
tudo é motivo de tensão
é engraçado minha alma me chama
e eu parado morro de apreensão.

O dia muda vagamente
a tarde passa eternamente
já me sinto diferente.

Ao pôr-do-sol minha vida é uma tragédia
ela é simplesmente
uma trágica comédia.
(ítalo egypto)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Foto por: Tamires Brito


Ao alvorecer minha vida começa
como uma grande aventura
não há alegria como essa,
na minha vida não há partitura.
(ítalo egypto)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Foto por: ítalo egypto


O Passageiro

O passageiro segue sentado,
observa tudo em sua volta
o banco, um velho estofado
na estrada uma grande revolta.

O passageiro segue sentado,
no campo a marcha da boiada
aos gritos do peão, transeunte calado
ao silêncio da viagem, à vapor silenciada.

O passageiro segue sentado,
antes que a algo se apegue
volta ao velho estofado.

E não há ninguém que negue,
a boiada, o campo ou peão abismado,
o passageiro sentado, segue.
(Ítalo Egypto)

domingo, 16 de agosto de 2009

Foto por: ítalo egypto


i remember when


De uma bela manhã,
um ensolarado dia se fez
como se desvanecesse de uma vez,
toda a tristeza do amanhã.

Toda essa beleza se transfigura,
quando eu te vejo
uma memória deste dia eu desejo,
uma nova lembrança, agora sem moldura.

Enquanto eu caminhava
você ao meu lado sorria,
corria e cantava.

E o mais incrível deste lindo dia
é que o que mais brilhava
era a luz que o teu sorriso refletia.

(Ítalo Egypto)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Foto por: Tamires Brito



Teu corpo
se enxuga em minha água:
calafeta,
enxágua.
Completa
o que não vem de mim.
E por ser água e calma,
sonâmbula
como a
distraída voz do lume,
lembra um vago perfume
de jasmim.

(Everardo Norões)

Foto por: Tamires Brito


Agonizavam os rastros de novembro.
E os meus ossos, cansados das neblinas,
doíam, no concerto das esquinas
da cidade, onde um dia, ainda me lembro,

Penetrou-se de escuro a minha alma,
quando um cão, a ladrar contra o sol-posto,
mordeu o lado oculto do meu rosto
e deixou seus sinais à minha palma.

Lembro-me que era de tarde. Ainda chovia.
O eco dos espelhos conduzia
meus passos que jaziam pelas ruas.

Havia o som da água que caía.
E no horizonte, além da agonia,
um cemitério de meninas nuas.
(Everardo Norões)

quarta-feira, 29 de julho de 2009



Depois do dia se segue a noite
em escuridão mergulho no céu estrelado
em profundas solidões, uma luz pra iluminar
e eu vejo imenso, um belo luar.

Uma borboleta me leva
através do tempo, vagueio
vejo as árvores, percebo que neva
tento matar o meu anseio.

Mas a qualquer momento
que eu olhe ao meu redor
nada parece mudar.

É como sentir que a vida
se desenvolve entre mentiras,
mentiras inocentes.
(Ítalo Egypto)

terça-feira, 28 de julho de 2009

. . . uma praia deserta, um coelho, uma amizade . . .
(dedicado a Suzanne Mostaert)


Quando durmo, sonho
e é engraçado pois quando sonho,
me reporto a vários lugares diferentes,
vagueio por várias mentes.

Então em um sonho desse,
estou numa praia deserta
e dentro de mim
é como se um sentimento nascesse.

Sentado na areia, me sinto estranho
quando um coelho vejo ao meu lado
parecia que eu tinha me afogado.

Como uma onda que traz voracidade,
num intenso momento de felicidade
e eu repito comigo, só pode ser amizade.
(Ítalo Egypto)



Soneto à Fotografia

Libertar-se ligeiro da moldura
é o desejo da face, onde, o desgosto
emigrado do poço de água impura,
vai se aninhar na hora do sol posto.

Do lugar da prisão vem a tortura,
pois vê, do seu retângulo, teu rosto
e acorrentado na parede escura,
não pode engravidar-te para agosto.

Guarda ainda no olhar instante e viagem:
o instante em que foi presa pela imagem
e o roteiro que fez em mundo alheio.

E eterna inveja do seu sósia ausente
que, embora prisioneiro da corrente,
habita num subúrbio do teu seio.

(Carlos Pena Filho)
Foto por: ítalo egypto


Notícia do Alto Sertão


Por trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.

(João Cabral de Melo Neto)
Foto por: tamires brito

Elogio da Dialética

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

(Bertolt Brecht)
Foto por: ítalo egypto


As Boas Ações

Esmagar sempre o próximo
não acaba por cansar?
Invejar provoca um esforço
que inchas as veias da fronte.
A mão que se estende naturalmente
dá e recebe com a mesma facilidade.
Mas a mão que agarra com avidez
rapidamente endurece.
Ah! que delicioso é dar!
Ser generoso que bela tentação!
Uma boa palavra brota suavemente
como um suspiro de felicidade!

(Bertolt Brecht)



Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

(Bertolt Brecht)

segunda-feira, 20 de julho de 2009


". . . the smiles returning to the faces . . ."


A amizade
É como uma mão que te sustenta
Na dor e no caos
É uma orelha que te escuta
Tanto teu sofrimento quanto teu prazer
Até o mais profundo da tua alma
Sem fazer julgamento algum
É um coração que se abre
E nunca se fecha
Como um refúgio

(Olavo Bilac)


" . . . tudo o que somos é poeira ao vento . . . "

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento

(Mario Quintana)